sexta-feira, 18 de maio de 2012

Sabedoria do SENTIR

Sabedoria - A competência perdida - 2ª parte
Homero Reis - Coach ontológico
Publicação no Estado de Minas: 13/05/2012 
 
Quero continuar falando sobre sabedoria e usando, como pano de fundo, a história do rei Salomão. Dotado de uma sabedoria excepcional que despertava admiração e curiosidade em todos, Salomão destacava-se por sua capacidade de discernir as coisas e julgá-las com justiça.

Entre os relatos de seus feitos, há, em especial, um que me chama a atenção. Logo no início de sua gestão, Salomão vê-se diante de um caso, no mínimo, bizarro. Foi assim: duas prostitutas deram à luz e uma delas, enquanto dormia, deitou-se sobre o filho, que, sufocado, veio a falecer. Desesperada, ela pega o filho morto e o troca pelo filho da outra. Ao acordar, a segunda mulher percebe a criança morta, mas reconhece que não é seu filho. Pois bem, esse é o caso que chega a Salomão. Como descobrir quem é a verdadeira mãe da criança viva?

É evidente que naquela época não havia exames de DNA, nem outros recursos tecnológicos disponíveis. Salomão propõe uma solução inusitada: dividir a criança viva ao meio e cada uma fica com uma metade. Uma das mulheres aceita a proposta. A outra, diante da terrível sentença, prefere abdicar da criança a vê-la morrer. Salomão entende que o amor maior preserva a vida e reconhece, naquela atitude, a verdadeira mãe e lhe devolve a criança.

O que desperta curiosidade nessa história é que não foi uma questão de Estado, uma disputa territorial, um problema estratégico sobre economia internacional ou uma dificuldade geopolítica que marca a sabedoria de Salomão como estadista, mas uma questão relacional entre duas mulheres.

Tentando entender esse episódio, percebo algumas coisas bem estruturais sobre a sabedoria. A conduta gerencial se revela no modo como cuido das pessoas que fazem parte do meu contexto (família, colegas de trabalho, amigos etc.). Salomão investia tempo na gestão dos relacionamentos. Entender como as pessoas estão se relacionando sob meu comando é uma forma de exercício da sabedoria.

Não raras são as vezes que escuto de meus clientes frases como: meu pai só tem tempo para o trabalho; o chefe só está preocupado com os resultados, a gente que se dane; ele (o profissional) só nos atende se a gente pagar primeiro. Entender as angústias e demandas das pessoas que nos cercam nos humaniza e nos integraliza. O resultado é a construção de relacionamentos íntegros.

Salomão não pede que as mulheres deem provas das circunstâncias, não manda investigadores ao local, não coleta testemunhas nem coteja provas do crime. Ele vai direto ao ponto – que desejos e motivações estão por baixo das demandas daquelas pessoas? O essencial é invisível aos olhos, mas se estampa nas emoções. Uma das mulheres estava cheia de ressentimento – se não posso ter meu filho, que ele também não seja seu. A outra está cheia de generosidade – quero meu filho vivo, mesmo que seja com outra mãe. Essa capacidade de discernir a emoção que sustenta o drama é uma declaração de sabedoria. Discernir a emoção básica por trás de uma demanda me permite manter a inocência sem ser ingênuo.

Um gestor sábio é alguém cuja conduta é inspiradora. Pouco tenho visto, nos últimos 30 anos como consultor, admiração recíproca entre as pessoas – colaboradores e gestores, pais e filhos, marido e mulher, “amigos”. Com o tempo, as relações vão se deteriorando e aprendemos a entender essa mecânica como “normal”. Ledo engano. Sabedoria tem a ver com inspiração. Aquelas mulheres, cada uma com sua intenção, levaram o caso a Salomão porque havia nelas a admiração pelo rei. Pergunte-se sobre o que você sente pelos seus colaboradores, pelo seu chefe etc., e observe-se sobre o que tem feito para garantir relacionamentos íntegros.

Você é capaz de elogiar, ou coloca-se naquela posição de que elogios estragam as pessoas? Você é capaz de pedir desculpas, ou acha que desculpar-se é enfraquecer-se? Você ensina a partir do erro, ou acredita que a punição é o melhor remédio? Você se envolve com seus colaboradores, ou acredita que é a distância que promove a autoridade? Essas crenças, se em algum momento foram cridas, em nenhum deles foram efetivas.

Aqui está uma boa chave para o exercício de todas as nossas habilidades e competências: reavaliar antigas crenças e construir novos níveis de relacionamento. Sabemos o que sabemos para melhorar quem somos e inspirar aqueles que nos cercam.

Reflitam em paz!

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